sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

2 - Brooke

Ontem fizemos mais um show com a casa lotada, foi tudo perfeito. Os fãs cantavam, gritavam, passavam uma energia incrível para nós no palco. Estávamos todos muito animados, apesar do cansaço com o final da turnê. Só faltavam dois show, um amanhã e o outro logo depois. Passamos por alguns países da América do Sul, Estados Unidos, Austrália e voltamos pra Europa, terminando aqui na Finlândia, o lar dos rapazes da banda.
Eu planejava voltar à Inglaterra depois dos shows, descansar, voltar a dar aulas de canto pela internet, dedicar um tempo só pra mim, até voltarmos para o estúdio novamente. Mas nosso baixista, Ville, passou muito mal ontem, enquanto cantávamos a última música. Quase entrei em pânico, larguei o microfone e me aproximei dele, ele se abaixou, meio de joelhos, meio sentado no chão. Afastei os cabelos longos e loiros dele, tocando o rosto e vi que ele sangrava pelo nariz. Engoli aquilo a seco, tirei o instrumento dele e coloquei o braço dele ao redor do meu ombro. Sami, o guitarrista, se aproximou e me ajudou a tirá-lo do palco. A partir dali foi uma correria, levando ele para o hospital. Fizeram alguns exames e no fim, não era nada grave, o frio e o ar muito seco foram as causas. Mas o Ville se sentia cansado, com o corpo pesado. Ele não aguentaria fazer mais show algum.
Conversamos e chegamos a conclusão de que a banda precisava dar um tempo. Um longo hiato pra cada um se recuperar da exaustão depois de tantos shows, ano após ano, quase sem férias. O Sami planeja continuar com a banda paralela dele, que é menor e não o cansa tanto. O Seppanen, tecladista e líder da banda, deve terminar um projeto antigo. Kimmo e o Ville devem pausar mesmo, ficando com a família.
Quanto a mim, não faço ideia do que fazer agora. Sinto desânimo ao pensar em voltar pra Inglaterra agora. Lá ninguém me espera e uma casa vazia sem a expectativa de voltar ao palco logo vai me deixar deprimida. Curiosamente, nas últimas horas, a única coisa que conseguiu me arrancar um sorriso foi uma foto. Derek, o que será que você está fazendo agora? Será que ainda se lembra de mim?

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

1 - Derek

Oi. Meu nome é Derek e tenho vinte e seis anos. Moro com meus três irmãos em São Paulo (no Brasil, aquele país que nós europeus desejamos estar quando o inverno rigoroso se aproxima e o aquecedor das casas nunca parece ser o suficiente). Os caras se chamam Erik, Seth e Sebastian, eu sou o mais novo deles, não mentalmente falando, se for me comparar com o Seth ou o Sebastian.
Nós quatro trabalhamos com música. Masterização, mixagem, toda a parte de produção, aquilo tudo, nós fazemos. É isso o que a gente gosta e é o que paga as contas, pelo menos na maioria das vezes. O Erik e eu damos aulas às vezes, fazemos alguns workshops e tal. Esse dinheiro a mais ajuda quando a gente quer fazer uma viagem ou ajeitar algum cômodo da casa.
Mesmo com os serviços a mais que a gente tira, está ficando cada vez mais complicado. Gastamos muito por meses com o tratamento de uma amiga nossa que tinha câncer de mama, pagamos os melhores médicos, fizemos de tudo, mas a doença foi mais forte e tirou ela da gente.
Foi por isso que nos mudamos da Europa pra cá, uma grande mudança era necessária. E ir morar em outro continente é o que eu chamo de grande mudança! Estamos há uns três anos aqui. Conversamos bem em português, já nos acostumamos com a comida e o calor. De nós quatro, o Sebastian foi o único que conseguiu enrolar uma garota a ponto de começarem a namorar, embora ele diga que foi pelos belos olhos verdes e dotes culinários dele. Pfff.